Fanfic baseada no romance "A Senhora do Trílio" de Marion Zimmer Bradley.
Capítulo V - Cerimônia
O salão
onde a cerimônia de casamento se realizaria estava abarrotado. Guirlandas de
flores do trílio, símbolo da terra e da casa real estavam em todas as colunas,
finalizados por faixas verdes-musgo, a cor favorita de Mikayla, por lhe lembrar
dos pântanos. Não estava frio, mas pequenas pedras aquecidas estavam espalhadas
pelo lugar, a fim de diminuir a umidade. Ainda que os janelões abertos dessem
para jardins reais, a umidade local e o grande número de pessoas reunidas no
lugar aumentavam a sensação de calor. Fora que arrumar os nobres por ordem de
título e afinidade era uma tarefa árdua para o mestre de cerimônias, pois não
adiantava ter sido o primeiro a chegar se seu título era o mais baixo. Isso
provocava constantes reacomodações, já que muitos nobres resolveram ir ao evento na última hora, de acordo com suas vontades. Foi preciso uma
intervenção da Rainha, determinando que, a partir daquele momento, quem
chegasse teria que se contentar com lugares nos fundos do salão. E pediu que os
guardas reais contivessem qualquer convidado que tentasse fazer escândalo.
Os noivos
não atrasaram. Após a entrada da família real de Laboruwenda, incluindo os
reis, seus seis filhos e seus respectivos companheiros, Mikayla entrou no
salão, pajeada por duas de suas sobrinhas. Seu vestido era de um tom esverdeado
claro, com rendas floridas e mangas
compridas que cobriam as costas da suas mãos. Havia um decote na parte
de trás, onde seus cabelos vermelhos, presos em uma longa trança
enfeitada com flores do campo, impediam de deixar suas costas totalmente
expostas. Quando chegou no altar, sentou-se na cadeira de espaldar alto, feita
de madeira e cravejada de pedras, que estava entre os seus pais: era o lugar da
noiva.
Todos
a postos, foi anunciada a entrada do Rei de Var, que faria o papel dos pais do
noivo. Quando Fiolon entrou, Mikayla prendeu a respiração: a imagem que lhe
roubara de sua visão do espelho não fazia jus a beleza dele. Nem
revelou a barba aparada que ele ostentava! Mikayla achou aquilo estranho e
segurou o riso para não estragar a cerimônia. Aparentemente Fiolon também fez
uso do charme para parecer mais velho aos olhos de todos. Postou-se ao lado do
Rei de var, para que este fizesse a declaração de costume:
– Reis de
Laboruwenda, estou aqui para pedir lhes que concedam a mão de vossa filha ao
meu tão amado sobrinho, Lorde Fiolon de Var. Ele é um rapaz próspero, possui um
ducado em Let e lida habilmente com extração de madeira em meu Reino. Possui
conhecimento dos sábios e tenho certeza que será um bom marido para vossa filha
tão querida, a Princesa Mikayla de Laboruwenda.
– Rei de
Var – começou o pai de Mikayla – é com muita alegria que o recebo em meu reino
para esta cerimônia. Considero tua intervenção, mas agora quero ouvir do rapaz.
Diga-me Lorde Fiolon de Var, Duque de Let: porque quer a mão da minha filha?
Toda aquela
ladainha era conhecida de quaisquer noivos daquelas terras: primeiro alguém
apresenta o noivo ao pai da noiva, enaltecendo suas qualidades, e depois o
pai da noiva (que há muito tempo sabia das qualidades do futuro genro!) pediae que este enalteça as qualidades da mulher que ele mal conheceu – isso segundo a
mente de Mikayla. O discurso do noivo costumava ser uma bajulação sem fim, e Mikayla já
começava a achar a cerimônia tediosa.
–
Majestade, é com todo respeito que venho até vós pedir a mão da princesa
Mikayla em casamento. Conheço-a desde minha tenra infância e a amo desde então.
Ela é, sempre foi e sempre será minha melhor amiga e objeto principal de meu
afeto (e aqui Mikayla esqueceu todo o tédio!). Amo a sua sabedoria e a sua
impaciência, a sua coragem e o seu destemor. Mas acima de tudo, eu a amo porque
ela faz parte de mim: já não sei mais quando sou eu ou quando sou Mikayla pois
nossos pensamentos se completam. Somos dois e somos um. - Fiolon fixara o olhar
em Mikayla ao dizer aquelas últimas frases. Por tudo que vivenciaram juntos,
aquela era uma verdade absoluta. – Posso
lhes assegurar majestades – continuou ele, desviando o olhar dela e direcionando aos pais de
Mikayla e seu tio – que se não for de vosso agrado a nossa união, sou capaz de
sequestrá-la e levá-la comigo para sempre!
Exclamações
de espanto foram ouvidas da plateia; afirmações deste tipo não eram
consideradas respeitosas diante da formalidade da cerimônia. Fiolon piscou para
Mikayla, que mantinha um sorriso de ponta a ponta no rosto, enquanto o
Rei de Var estava pasmo:
– Fiolon!
Mas que afirmação mais desnecessária a se fazer neste momento! Peça desculpas
ao Rei!
Antes que
Fiolon abrisse a boca, a Rainha interveio:
– Não é
necessário majestades... conheço muito bem os meus “filhos” e Fiolon tornou-se
um deles quando foi abrigado por mim aqui neste reino. Sabemos que não falou
por mal, apenas quis expressar, de maneira “muito
equivocada”, o apreço que tem pela princesa.
Risinhos
abafados ecoaram pela plateia. Fiolon começou a se sentir desconfortável com a
fúria que via nos olhos do Rei de Laboruwenda pela descortesia. Mas estava
feito, e o Rei, ainda que vermelho, bufou um “humpft” e assentiu, voltando às
formalidades.
– Cabe a
última palavra á minha filha. Princesa Mikayla, é do seu interesse desposar
Lorde Fiolon de Var, Duque de Let?
Mikayla
apressou-se em responder:
– Ora papai
que pergunta mais idiota: é claro que me caso com Fiolon! – outro espanto entre
os convidados. - Nem seria necessário
ele me sequestrar pois eu fugiria com ele sem pensar duas vezes!!
Desta vez
todos aplaudiram a espontaneidade dos noivos.
– Vê-se que
não há como ser contra tal união, então eu o aceito Lorde Fiolon de Var, Duque
de Let como meu genro!
Mais palmas
explodiram pelo salão. Fiolon estendeu as mãos para Mikayla, outra coisa
fora do protocolo. Ela questionou-o mentalmente, percebendo suas mãos frias de
nervosismo e ele simplesmente sorriu:
– Vem
comigo, terá uma surpresa!
Mikayla pulou do altar e juntos seguiram
correndo pelo meio do salão em direção aos jardins sobre os gritos de “Voltem
aqui!!” do Rei. A Rainha a esta altura já havia se jogado em seu trono, não
tendo mais com o que se surpreender. “Porque eles têm que estragar tudo?”
queixou-se. Aquele seria o momento em que os noivos declamariam seus votos; ao invés disto, convidaram todos para segui-los até os jardins.
Lá, Fiolon descalçou os sapatos e pediu que Mikayla fizesse o mesmo. Tomando as
mãos da princesa, disse com afinco:
– Princesa
Mikayla, filha legítima de Laboruwenda: por esta terra que pisamos e que dá a
vida, pela luz do nosso Sol invicto e das três luas, pelo sangue que corre em
minhas veias e pelo ar que eu respiro eu juro: serei teu até o dia de minha
morte, e na minha vida não haverá ninguém além de ti!
– Mas que
raio de juramento é este? – sussurrou o Rei para a Rainha
– Eu não
sei, mas é o mais lindo que eu já ouvi! – ela respondeu. De fato ainda tinha
com o que se surpreender com aqueles dois.
Mikayla
encontrava-se tão extasiada com os votos que acabara de ouvir que esqueceu-se de
que deveria recitar os seus votos. Havia decorado as palavras usuais, mas
diante da originalidade de Fiolon, sentiu-se livre das
formalidades; após um “é a sua vez!” sussurrado em sua mente pelo rapaz,
declarou:
– Lorde
Fiolon de Var, Duque de Let, meu Lorde... – e calou-se, pois por pouco
revelaria a condição de Fiolon como arquimago ao chamá-lo de “Lorde Branco” –
Dono do meu coração. Se conjurou o vosso amor pelas coisas sagradas deste
reino, eu também juro pela terra abaixo de meus pés, pelo sangue que corre em
minhas veias, pelo Sol que ilumina nossos dias e pelo ar que eu respiro, que
serei tua até o dia de minha morte, e no que vier além dela. Não haverá homem
algum além de ti.
Fiolon
tomou Mikayla nos braços e a beijou. Palmas e aclamações de felicitações foram
ouvidas de todos os cantos. O casamento estava feito finalmente, mas ainda não havia terminado: de
repente tudo escureceu. Algo cobriu o sol e a penumbra gerada permitiu que as estrelas aparecessem.
– Não está
cedo demais para anoitecer? – perguntou alguém
“–O que
está acontecendo Fiolon? Alguma magia das trevas? Porque eu juro que fiquei
calma e não mexi mais com a terra!”
"– Não se preocupe” – ele respondeu-lhe sorrindo – “Este
é meu presente para você. Apenas observe”
Ele apontou para a direção do nascer do sol e
milhares de pontos de luz começaram a riscar o céu. Eram meteoritos, uma chuva
deles. Alguém gritou que era o fim do mundo, e muitos correram para se
proteger, antes de concluírem que era um efeito meteorológico. Os magos
presentes ficaram intrigados: conheciam o fenômeno, mas nunca presenciaram fora
das habituais horas de escuridão.
– Continue olhando! – Fiolon sussurrou.
À
leste, as estrelas cadentes começaram a estacar no céu, tomando forma de
palavras, para a maravilha daqueles que o assistiam. “Mikayla e Fiolon para
sempre!” foi lido por todo o céu de Laboruwenda e nas terras atingidas pela
escuridão do sol provocada pelo Arquimago de Var.
Mikayla emocionada, cobriu o marido de beijos
– Como foi que fez isto?? Vai ter que me ensinar!
Quando clareou, muitos ainda estavam bestificados. Ainda
que alguns, especialmente os de Var, conhecessem os poderes de Fiolon como
mago, testemunhar a manifestação de sua magia estava aquém de sua imaginação. E
questionavam seus limites.
– Se ele é capaz de comandar os astros, o que não
será capaz de fazer com nossas vidas? – comentavam os leigos entre si
– Nem em toda literatura mágica houve feito
semelhante, nem os arquimagos demonstraram tal nível de domínio: seria ele um? –
os magos se questionavam.
O Duque de Let tornou-se uma incógnita.
Os noivos não atrasaram. Após a entrada da família real de Laboruwenda, incluindo os reis, seus seis filhos e seus respectivos companheiros, Mikayla entrou no salão, pajeada por duas de suas sobrinhas. Seu vestido era de um tom esverdeado claro, com rendas floridas e mangas compridas que cobriam as costas da suas mãos. Havia um decote na parte de trás, onde seus cabelos vermelhos, presos em uma longa trança enfeitada com flores do campo, impediam de deixar suas costas totalmente expostas. Quando chegou no altar, sentou-se na cadeira de espaldar alto, feita de madeira e cravejada de pedras, que estava entre os seus pais: era o lugar da noiva.
Todos a postos, foi anunciada a entrada do Rei de Var, que faria o papel dos pais do noivo. Quando Fiolon entrou, Mikayla prendeu a respiração: a imagem que lhe roubara de sua visão do espelho não fazia jus a beleza dele. Nem revelou a barba aparada que ele ostentava! Mikayla achou aquilo estranho e segurou o riso para não estragar a cerimônia. Aparentemente Fiolon também fez uso do charme para parecer mais velho aos olhos de todos. Postou-se ao lado do Rei de var, para que este fizesse a declaração de costume:
– Reis de Laboruwenda, estou aqui para pedir lhes que concedam a mão de vossa filha ao meu tão amado sobrinho, Lorde Fiolon de Var. Ele é um rapaz próspero, possui um ducado em Let e lida habilmente com extração de madeira em meu Reino. Possui conhecimento dos sábios e tenho certeza que será um bom marido para vossa filha tão querida, a Princesa Mikayla de Laboruwenda.
– Rei de Var – começou o pai de Mikayla – é com muita alegria que o recebo em meu reino para esta cerimônia. Considero tua intervenção, mas agora quero ouvir do rapaz. Diga-me Lorde Fiolon de Var, Duque de Let: porque quer a mão da minha filha?
Toda aquela ladainha era conhecida de quaisquer noivos daquelas terras: primeiro alguém apresenta o noivo ao pai da noiva, enaltecendo suas qualidades, e depois o pai da noiva (que há muito tempo sabia das qualidades do futuro genro!) pediae que este enalteça as qualidades da mulher que ele mal conheceu – isso segundo a mente de Mikayla. O discurso do noivo costumava ser uma bajulação sem fim, e Mikayla já começava a achar a cerimônia tediosa.
– Majestade, é com todo respeito que venho até vós pedir a mão da princesa Mikayla em casamento. Conheço-a desde minha tenra infância e a amo desde então. Ela é, sempre foi e sempre será minha melhor amiga e objeto principal de meu afeto (e aqui Mikayla esqueceu todo o tédio!). Amo a sua sabedoria e a sua impaciência, a sua coragem e o seu destemor. Mas acima de tudo, eu a amo porque ela faz parte de mim: já não sei mais quando sou eu ou quando sou Mikayla pois nossos pensamentos se completam. Somos dois e somos um. - Fiolon fixara o olhar em Mikayla ao dizer aquelas últimas frases. Por tudo que vivenciaram juntos, aquela era uma verdade absoluta. – Posso lhes assegurar majestades – continuou ele, desviando o olhar dela e direcionando aos pais de Mikayla e seu tio – que se não for de vosso agrado a nossa união, sou capaz de sequestrá-la e levá-la comigo para sempre!
Exclamações de espanto foram ouvidas da plateia; afirmações deste tipo não eram consideradas respeitosas diante da formalidade da cerimônia. Fiolon piscou para Mikayla, que mantinha um sorriso de ponta a ponta no rosto, enquanto o Rei de Var estava pasmo:
– Fiolon! Mas que afirmação mais desnecessária a se fazer neste momento! Peça desculpas ao Rei!
– Não é necessário majestades... conheço muito bem os meus “filhos” e Fiolon tornou-se um deles quando foi abrigado por mim aqui neste reino. Sabemos que não falou por mal, apenas quis expressar, de maneira “muito equivocada”, o apreço que tem pela princesa.
Risinhos abafados ecoaram pela plateia. Fiolon começou a se sentir desconfortável com a fúria que via nos olhos do Rei de Laboruwenda pela descortesia. Mas estava feito, e o Rei, ainda que vermelho, bufou um “humpft” e assentiu, voltando às formalidades.
Mikayla pulou do altar e juntos seguiram correndo pelo meio do salão em direção aos jardins sobre os gritos de “Voltem aqui!!” do Rei. A Rainha a esta altura já havia se jogado em seu trono, não tendo mais com o que se surpreender. “Porque eles têm que estragar tudo?” queixou-se. Aquele seria o momento em que os noivos declamariam seus votos; ao invés disto, convidaram todos para segui-los até os jardins. Lá, Fiolon descalçou os sapatos e pediu que Mikayla fizesse o mesmo. Tomando as mãos da princesa, disse com afinco:
Mikayla encontrava-se tão extasiada com os votos que acabara de ouvir que esqueceu-se de que deveria recitar os seus votos. Havia decorado as palavras usuais, mas diante da originalidade de Fiolon, sentiu-se livre das formalidades; após um “é a sua vez!” sussurrado em sua mente pelo rapaz, declarou:
– Lorde Fiolon de Var, Duque de Let, meu Lorde... – e calou-se, pois por pouco revelaria a condição de Fiolon como arquimago ao chamá-lo de “Lorde Branco” – Dono do meu coração. Se conjurou o vosso amor pelas coisas sagradas deste reino, eu também juro pela terra abaixo de meus pés, pelo sangue que corre em minhas veias, pelo Sol que ilumina nossos dias e pelo ar que eu respiro, que serei tua até o dia de minha morte, e no que vier além dela. Não haverá homem algum além de ti.
Fiolon tomou Mikayla nos braços e a beijou. Palmas e aclamações de felicitações foram ouvidas de todos os cantos. O casamento estava feito finalmente, mas ainda não havia terminado: de repente tudo escureceu. Algo cobriu o sol e a penumbra gerada permitiu que as estrelas aparecessem.
– Não está cedo demais para anoitecer? – perguntou alguém
Ele apontou para a direção do nascer do sol e milhares de pontos de luz começaram a riscar o céu. Eram meteoritos, uma chuva deles. Alguém gritou que era o fim do mundo, e muitos correram para se proteger, antes de concluírem que era um efeito meteorológico. Os magos presentes ficaram intrigados: conheciam o fenômeno, mas nunca presenciaram fora das habituais horas de escuridão.
– Continue olhando! – Fiolon sussurrou.
À leste, as estrelas cadentes começaram a estacar no céu, tomando forma de palavras, para a maravilha daqueles que o assistiam. “Mikayla e Fiolon para sempre!” foi lido por todo o céu de Laboruwenda e nas terras atingidas pela escuridão do sol provocada pelo Arquimago de Var.
Quando clareou, muitos ainda estavam bestificados. Ainda que alguns, especialmente os de Var, conhecessem os poderes de Fiolon como mago, testemunhar a manifestação de sua magia estava aquém de sua imaginação. E questionavam seus limites.
– Se ele é capaz de comandar os astros, o que não será capaz de fazer com nossas vidas? – comentavam os leigos entre si
O Duque de Let tornou-se uma incógnita.
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