domingo, 11 de agosto de 2013

O Conto da Mulher que se Perdeu

Acho que para começar, nada mais justo do que informar a vocês os perigos de se atravessar o universo da imaginação: você pode querer ficar por lá! Não, não estou brincando. Você pode se sentir tão sozinho no mundo real, que a fantasia será seu único recurso de sanidade, e é aí que mora o perigo, pois para as pessoas do mundo real você se tornará insano! Meu conselho: equilíbrio é tudo. Deixe as divagações para detrás das cortinas, ou para alguém em quem confia muito e que entenda que esta é sua maneira de encarar as coisas - não tente convencer ninguém, apenas mostre para ele as inúmeras possibilidades. Afinal, tudo o que temos hoje em nossas vidas foi sonho um dia, não foi? Jogue suas pistas; às vezes você encontra sonhadores e divagadores como você onde menos espera (eu já encontrei um num restaurante: era um jovem garçom que me atendia e sentia uma vontade enorme de falar sobre o livro que eu estava lendo, que ele gostaria de ler também!).

Estou explicando isto por causa da história a seguir. Se aconteceu? não sei dizer. Chegou até a mim pelas mãos da noite. Porque todos nós um dia nos sentimos perdidos na escuridão, não é mesmo?!
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Houve uma vez uma mulher que não conseguiu crescer. Não, ela não ficou presa em um corpo de criança como aquele ser de cabelos espetados e roupa verde que todos conhecem; seu corpo amadureceu, sua mente evoluiu, mas ela não conseguiu se adaptar. 
E sofreu. 
E seu sofrimento atravessou as fronteiras do mundo conhecido e alcançou uma amizade antiga, aquela que temos somente quando crianças, e que depois se esvai como a bruma da manhã: tão de repente, que duvidamos se ela alguma vez estivera presente.

Seres oníricos são puros e inocentes. Não são capazes de compreender a diversidade dos sentimentos, os sentem cada qual de cada vez. Quando aquele chamado o atingiu, o alado ser onírico só teve compaixão, e esquecida de todas as regras de que homens acima da puberdade não devem entrar no mundo místico, levou a mulher de volta ao paraíso de sua infância. Lá, ela voltou a sorrir; somente lá, ela conseguia ser feliz. Não pesaram, no entanto, as consequências de suas ações para o mundo real. Ninguém via a amiga acompanhar a mulher enquanto esta caminhava pelas ruas; aos olhares alheios, parecia que esta falava sozinha. Em um mundo onde a imaginação é ceifada cada vez mais cedo, nem mesmo as crianças eram capazes de ver a amiga esvoaçante. A mulher por sua vez passava a maior parte do dia esperando o próprio adormecer, quando seria levada para o outro mundo. Aos olhos dos outros, isto não era normal.  

Então eles chegaram. Com seus uniformes brancos, arrancaram a mulher de seu mundo maravilhoso. Convenceram-na de que ela era uma má influência, e que tudo era obra da sua imaginação. Deram-lhe remédios e um quarto novo em um lugar onde gritos ensurdecedores ecoavam durante a noite. Eram seus ou eram dos outros? Às vezes não sabia... Passou a ter medo de dormir, para que seus sonhos não a enganassem novamente: lhe disseram que só sairia daquele lugar se afirmasse que sua amiga não era real. Mas como podia ser saudosa de algo que não existia? Sentia falta de sua amiga, e em seu íntimo sabia que com o fechar de seus olhos os portões daquele universo mágico abrir-se-iam outra vez: ela correria para lá, era fato, e lá seria esquecida.

“-Ela tinha medo de dormir
- Por quê?
-  Por que quando ela dormia, viajava para mundos sequer imagináveis por alguém.
­- Mas o que isto tem de mais? Acontece com todos nós: chama-se sonho.
- Não, com ela era diferente. O fechar de seus olhos eram a chave que abria o portal para enviá-la a um universo desconhecido. Seus sonhos eram reais. E se ela se perdesse por lá, estaria perdida para sempre.”

A mulher sofria, a amiga sofria. Em seu mundo místico fora condenada a não atravessar o véu entre os mundos. Estava morrendo, não pela sua condenação, mas pelo amor e pela negação daquela que outrora fora a mais doce criança com quem brincara. Estava conformada. Somente vivia por que a mulher ainda acreditava nela. Quando isto deixasse de acontecer, ser-lhe-ia fatal.

Ambas esperavam.

Um dia, ouviu-se um chamado urgente, tão desesperado, que atravessou todas as fronteiras existentes. “Por favor, venha me salvar”

Então a amiga se foi.

Era uma bonita manhã de sábado quando os homens de uniforme branco a encontraram. Os raios de sol insinuavam-se através da cortina e talvez por isso o rosto da mulher estivesse tão corado. Ainda dormia. Dormia e sorria. Tinha nas mãos o símbolo antigo da Aliança entre Deus e os homens, que também era o símbolo dos seres místicos.

Só parecia, mas na realidade mulher não dormia. Ela sequer estava ali. Corria com sua amiga onírica pelas terras esquecidas na memória de sua infância, perdida para sempre naquele mundo encantado de onde nunca deveria ter saído.

Os homens então fecharam a cortina, cobriram seu rosto e finalmente a deixaram brincar em paz.

Chegada...

O terror de todo escritor: a página em branco.


Eu queria começar com alguma coisa genial, algo diferente, bacana, uma introdução espetacular que chamasse a atenção de todos jogassem todos os holofotes para cá mas...cadê a manha, cadê as palavras, cadê as ações?...



Então vou começar assim, tímido, devagar, não escancarando os portões, mas abrindo a porta devagarzinho, e convidando para entrar à quem nesta porta bater.



Seja bem-vindo!


Durante anos relutei para transcrever as minhas histórias para um computador ou um espaço virtual. O pavor quando o computador dava pane e perdia páginas e mais páginas de trabalho era maior do que o fogo que pudesse consumir ou das traças que pudessem se alimentar do papel que abrigava meus textos. O cheiro da caneta azul e a forma tão pessoal de escrever nunca deixarão de ser para mim, importantes para o desenvolvimento de uma boa história. Pura sinestesia... prefiro rabiscar o erro do que apagá-lo como se ele nunca tivesse existido; assim sou eu, rs! 


E mesmo assim sucumbi ao charme da modernidade: como publicar livros não sustenta uma família neste país, ter isso como hobby não faz mal... e conversar também não!


Então vamos ao que interessa: não prometo ter a autenticidade como marca registrada mas tentarei ao máximo, quando não estiver contando histórias, ser sincero em minhas opiniões. Discussões serão sempre bem vindas, desde que de maneira educada - posso até mudar de opinião, desde que os argumentos sejam convincentes! Mas aqui o foco principal serão as histórias. Livros, contos realidades publicações, fanfics... tudo que o universo da imaginação neste ramo permitir. 

Apenas uma nota: o livro da moda não vai estar aqui. Explico: geralmente as empresas fazem uma campanha exagerada por uma história que milhões lêem mas que o conteúdo é fraco. Temos aquela mania insossa de seguir a boiada, "esta todo mundo fazendo, então também vou fazer". Quando o markentig é "milhões já leram" para mim significa que não houve critério algum para o conteúdo, então melhor esperar a poeira baixar. Sabe, igual as nossas músicas entende? O hit do momento, é só o hit do momento; daqui a 2 anos ninguém se lembra direito - ou pior, lembra, sabe cantar de cor, mas acha brega, ultrapassado.

Uma boa história nunca é brega, ultrapassada.
Uma boa história atravessa tempos e gerações.
Uma boa história sobrevive, porque é imortal.

E é sobre isso que tentaremos conversar por aqui...