Pois tenho certeza quem quer quer que leia a história que contarei à seguir, irá dizer que Iris, - como ela também pensava - tinha um problema.
Eu digo que Iris tinha a solução :) !
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O mundo de Iris é branco. Tudo
aquilo que ela vê é branco: o céu é branco, o Sol é branco, as árvores, as
ruas, as praças, os animais... As pessoas são fantasmas, distintos somente pelo
som de suas vozes, e uma ou outra curva de seu contorno em linhas escuras – no
mais, tudo é branco.
E ela não era feliz. Iris queria
ser como os outros que veem todas as cores, quer senti-las tal qual pássaros e
insetos são pelas flores atraídos. Iris desejava o frescor do verde, o calor do
laranja, a tranquilidade do azul... mas ela não tinha isso. Pois tudo o que
Iris via era branco.
Até que um dia ela fugiu para um
lugar distante, tão nos confins do mundo conhecido que alguém jamais ousara
chegar lá: atravessando as fronteiras do desconhecido, ela encontrou-se à beira
de um penhasco e sem ter para onde seguir e não querendo voltar, decidiu
construir ali a sua morada pois para sua surpresa, descobriu que ali ela podia
ver as cores! Decidiu que pintaria sua casa com todas as cores do mundo. A
cobertura seria anil, com nuvens douradas, anunciando o crepúsculo. Na sala,
todos os tons de verde, ilustrando as matas e, nas circulações adjacentes, todo
colorido da flora. Em seu quarto, o fios dourados sob nuvens rosadas num eterno
alvorecer. Cidades cinzentas na cozinha, o marrom das estradas do campo na
adega, a fúria e a turbulência do azul do mar em sua sala de banhos... em
diversos cômodos, Iris pintou toda fauna, e as diferentes raças humanas e as
diferentes estações.
E foi assim, pintando, pintando,
que pintou-se também o que não se pode ver nem tocar, mas se pode sentir: lá
estava o vermelho da paixão e do ódio, a alegria do amarelo, a delicadeza do
rosa-bebê, o roxo do ciúme, a depressão em azul-marinho, a dor surda do cinza,
a fúria marrom... quase insana, Iris pintava sem parar.
Até que a chuva, pura e
cristalina, chegou, e a tinta fresca da casa de Iris desbotou. Foi-se um pouco do verde
das matas, foi-se parte do céu azul... Os raios de sol misturaram-se com as
cidades cinzentas, que invadiram as estradas do campo e tomaram os animais. As
cores se fundiram e uma maravilhada Iris via a cascata multicor escorrendo pelo
telhado juntar-se com os rios de
sentimentos que fluíam pelo chão, e que juntos atravessavam o penhasco; quase únicos,
desaguavam no mar.
E se aqueles filetes tinham todas
as cores, Iris pensou que o oceano seria a miscelânea de tons que ela tanto
desejara ver. Insana, correu para avistar o mar. Lá chegando, primeiro se
espantou; depois, finalmente compreendeu, e por fim sorriu: no mar, ao
unirem-se todas as cores de Iris, novo branco se formou.
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PS: A imagem que encabeça esta história é da Turma da Mônica, desenhada e roteirizada por Mario Cau e publicada no livro MSP+50 sob o título "para estar junto". Ilustra esta história pois ambas, esta e a do Mário, retratam através das cores o antagonismo dos sentimentos que carregamos dentro de nós. Para a leitura desta, acesse: http://www.mariocau.com, e descubra um pouco mais do trabalho deste artista, e porque da associação entre ambas!
Muito bom! Belo texto! Parabéns, poeta!
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